LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. São Paulo. Editora 34, 1999. trad. Paulo Neves. Tit. Original “Qu’est-ce Le Virtuel?”.



Credenciais da Autoria

Pierre Lévy (Tunísia, 1956) é um filósofo da informação que se ocupa em estudar as interações entre a Internet e a sociedade. Pierre Lévy nasceu numa família judaica. Fez mestrado em História da Ciência e doutorado em Sociologia e Ciência da Informação e da Comunicação, na Universidade de Sorbonne, França. Trabalha desde 2002 como titular da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva na Universidade de Ottawa, Canadá. É membro da Sociedade Real do Canadá (Academia Canadense de Ciências e Humanidades).

Em seu livro A Revolução Contemporânea em matéria de Comunicação, Lévy faz uma análise da evolução da humanidade, abordando o desenvolvimento da Internet e a digitalização da informação.

Como algumas de suas obras mais importantes podemos citar; As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 1. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1992. 263 p, As árvores de conhecimentos. São Paulo: Escuta, 1995. 188 p. (em co-autoria com Michel Authier), O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996. 160 p., A ideografia dinâmica: para uma imaginação artificial? Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 226 p.,

O que é virtual? – por Pierre Lévy.

O livro aqui apresentado em resenha faz um passeio pelos fatores que influenciam na concepção de estabelecer o que é virtual, caracterizando-o e descrevendo-o sobre a sua forma, em que este remete a uma mudança de visão a partir dos sentidos, dando uma nova consciência do que é real. Dentro dessa apropriação do objeto em suas propriedades os usos os valores pertencem a uma atualização.

Assim, o autor desenha as circunstâncias necessárias para se conceber um entendimento entre o real X virtual. Com isso altera-se a dinâmica e as intervenções dos indivíduos que são orientados a pensar e agir conforme convenções e estímulos exteriores. O virtualizar significa ir de encontro a questões e interrogações que tencionam ao que é particular, condicionando a uma transmutação. Agora, identidades ante predominantemente estáticas em um mundo contemporâneo submetem-se a situações em que o objeto físico-material deixa de ser o vetor principal da relação com o homem. A realidade sofre uma atualização para outras formas que ultrapassam as limitações de existência espaço-tempo ”a virtualização fluidifica as distinções instituídas, aumenta os graus de liberdade, cria um vazio motor”.

Pertencer a outros espaços, ignorando as barreiras geográficas ou limitações de tempo, ou seja, uma nova construção para relações com o meio emerge. Essa relação assíncrona nos remete ao que de fato é estar presente e não-presente numa descontinuidade das cadeias e elos movendo-se para o imaginário – virtual. Em que se persegue um ideal de sobrevivência ora não experimentado em nosso corpo físico, imune aos males e passível de um controle externo. A espécie humana se aventura em novas formas de reconstruções, percepções, projeções pela associação a dispositivos que projetam o corpo num outro ambiente e espaço, a exemplo do telefone. Este último que consiste em “um dispositivo de tele presença”, que amplia a modalidade do corpo para uma dimensão além do tempo presente e local. Entra em cena um interlocutor que ao escutar a emissão sonora da voz percebe a presença imaterial do indivíduo, mas também se projeta a partir do som para outro espaço de realidade numa retroação complexa de movimentos e sentidos. Daí a capacidade dos corpos solver efeitos dinâmicos, mas que também se proliferam em códigos que forma um sistema digital. O hipercorpo assume uma composição redimensionada pelas das partes, hibrido por aceitar combinações (implantes, próteses e transplantes) que modificam o corpo inicial. Então, as fronteiras corpóreas deixam de serem organismos intransponíveis, à medida que a virtualização avança temos uma expansão médica e técnica que segundo autor. Assim, “o corpo individual torna-se parte integrante de um imenso hipercorpo híbrido e mundializado.”, fora dos limites geográficos de cada ser. Com a desterritorização o homem se lança em um mar de novas possibilidades explorando conceitos, imprimindo marcas, trilhando caminhos cujo percurso indica uma navegação além físico e material. Nessa constituição em que o indivíduo molda-se ao espaço, disperso na dinâmica dos corpos em prol da intensificação de diálogos coletivos de inteligência.

Como forma de atender uma necessidade de leitura, que envolve uma compreensão do texto cujos aspectos como tensões, brancos e inventividades são participantes do virtual. De modo que autoria rompe um discurso linear de leitura numa composição particular ou coletiva sendo apresentado num suporte digital. Para além de uma viagem pelo campo insólito dos sentidos semânticos aparente na escrita presente no olhar, e que emergem do ser humano.

O processamento de uma expressiva quantidade de dados fruto do registro saberes em sincronia com contextos que independem da localização, mas que podem ser editados, alterados e redimensionados conforme as necessidades dos seus leitores ou gestores em tempos distintos. A partir da reesturação da escrita como á conhecemos estática. Passamos a uma nova condição de humanidade rompendo-se um paradigma universal, o texto desterritozado passa circular em meio eletrônico, redes interligadas pelo mundo e dispor de uma maior visibilidade potencial. A digitalização nutre o texto de uma potencialidade sem precedentes se comparado a impressão tipográfica. O real a partindo texto físico uni-se ao contemporâneo sendo gravados e transportados em dispositivos de alta densidade e compactação de dados (disquetes, disco rígidos e discos óticos), traduzidos em caracteres alfabéticos pelo computaor para um dispositivo de imagem (tela do computador). O leitor agora tem a seu dispor uma gama de opções que lhe são oferecidas em meio virtual e compreendidas a partir de instrumentos informáticos ora transitórios ou não que compõem os softwares e suas interfaces.

Desfrutando dessas possibilidades de simulação e expansão mais sofisticada usando o computador como ferramenta. Entretanto, o papel deste equipamento na contemporaneidade sofre modificações ajustes para atender as necessidades mais complexas que a simples compilação de textos e imagens. Temos uma central especializada potencializar modelos e “metatextos” que somados a capacidade inventiva do operador pode servir a diversos usos do em prol do conhecimento. A participação da escrita em uma sociedade oral cuja ecologia cognitiva tem como base suporte estático abre suas portas ao novo formato com leitura diferenciada “tela informática é uma nova ‘maquina de ler’, o lugar onde uma reserva de informação possível vem se realizar por seleção, aqui agora, para um leito particular”. O leitor concebe uma interação com o assunto disposto, que envolve, nós dispersos pela rede, sinais, ideogramas, imagens, estruturas e interfaces de navegação. Assim, o hipertexto tenta se aproximar do falar diante dos olhos permitindo ao leitor um percurso não linear dinâmico, intenso por suas brechas e vias que poderão ser contempladas em sua resplandecência escrita e imagética.

Na virtualização as relações de economia e consumo co-habitam espaços, se por um lado há busca de “a freqüência pela evocação de ‘novos mercados’, que supostamente dariam novo impulso ao crescimento e empregos”, na esquina existe o capital que utiliza o virtual como instrumento desagregador e dessestruturante tendo como único objetivo o lucro desenfreado. Que obriga o interlocutor a ser um consumidor passivo, cerceando o direito a co-produção e criatividade dos indivíduos seja nas artes, na literatura, na medicina, softwares e conhecimento cientifico.

O ciberespaço oferece uma nova condição natural das coisas, vivemos sobre um mundo material compartilhado com outros organismos sistemas administrados através das linguagens e dessas para com seus consumidores, outros mundos dentro e fora de sua forma biológica impregnada de complexidade. A compreensão de corpo mutante em busca de signos pertencentes ao exterior, como prolongamento de instrumental si mesmo, ultrapassando a existência física a fim de recompor sua identidade material. A relação do virtual e suas nuances envolvem questões de pertencimento das coisas, artifícios utilizados na construção complexas relações de sentido. No centro das discussões um desejo de encontrar respostas – mensagens ou combinações simbólicas como relação do indivíduo com sua mente criadora, que nos remetem a situações de interdependência histórica, técnica e informacional. Surge nesse contexto o sujeito universal autônomo, segue interagindo sob regras sociais a temporal do direito, religião, política e/ou economia, tangíveis aos preceitos éticos permeiam as atitudes humanas. Temos até aqui uma pretensa obsessão da transformação de ideias em um verdadeiro devir, consciência de inteligência coletiva e colaborativa. Embora com todo entusiasmo produzido pela internet o debate permanece. Na busca de um ciberespaço democrático ávido pela exploração de suas possibilidades, seja como objeto vetor de pesquisa, co-autoria, aproximação de pessoas e não subutilizado como mais uma mídia voltada para divulgação massiva e fragmentada de informação. Diferentemente da televisão e suas grades de programação que aprisionam seus telespectadores a um universo paralelo repleto de inverdades e valores sociais deturpados. Um cardápio diário de exortação a luxuria e adestramento dos indivíduos como consumidores passivos de informação. Onde impera a manipulação de grandes blocos econômicos vorazes por aumentar seu poder de dominação.



Nesse emaranhado de nós, perverso em sua infinita complexidade, “benvindos” aos tortuosos descaminhos da insólita viagem virtual, cheia de incertezas e muita turbulência.



Resenhado por:



CONCEIÇÃO, Emerson de Alleluia. Estudante de Pós-graduação em Tecnologia e Novas Educações da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Professor da Rede Municipal Educação Cultura, Esporte e Lazer– PMS/SECULT-BA